Qual sua avaliação geral do 1º Congresso da ANEL?
Tenho certeza de que foi um grande sucesso. Era a
sensação do plenário no encerramento. Alí sabíamos que, após tanto esforço para
chegar até ali, tínhamos cumprido nossa missão. A ANEL saiu de seu primeiro
congresso consolidada enquanto entidade e organizando uma camada importante de
lutadores para grandes campanhas no próximo semestre.
Em que medida o contexto em que foi realizado o
congresso incidiu sobre os debates e resoluções aprovadas?
Acho que no fim das contas, mesmo em uma situação
política no país onde o movimento estudantil não está protagonizando lutas mais
fortes, acabamos tendo um bom momento para fazer nosso congresso. Há um
contexto mundial, com as revoluções árabes e as grandes manifestações na
Europa, em que a juventude não quer ser coadjuvante. Tenho certeza de que isso
foi uma grande inspiração para os delegados e delegadas do nosso congresso. E,
além disso, no Brasil, houve lutas muito importantes que têm tido atenção da
ANEL e desses lutadores que estiveram em nosso congresso. Foi ótimo ter um
operário da construção civil logo na Mesa de Abertura. Eles fizeram greves
fortíssimas e os estudantes viram. Igualmente, os bombeiros, professores e
técnicos das universidades federais em greve estiveram representados. Então,
ter um congresso que reflete todas essas lutas foi um acerto grande. É o começo
de uma experiência com o governo Dilma. Apesar da popularidade do governo, há
lutas em curso e toda uma crise política em torno ao problema do Palocci. Nesse
sentido, acho que a ANEL se localizou bem nesse cenário.
Entre as resoluções aprovadas, quais você
destacaria?
Todas as resoluções aprovadas no Congresso
expressam muito debate político e são o saldo de um processo que a ANEL
conduziu desde a base das escolas e universidades até os 4 dias do Congresso.
Por isso, todas têm sua importância. Mas se eu fosse destacar algumas, eu
começaria pela aprovação de uma ampla Campanha Nacional contra o Plano Nacional
de Educação proposto pela Dilma, que condena nossa juventude a seguir vivendo
sob o atraso histórico que tem nosso país no terreno do ensino público. Foi
decidido pelo congresso que combinaremos essa campanha com a construção da luta
e do plebiscito unitário pelo investimento de 10% do PIB para a educação. Além
disso, teremos uma jornada de luta entre os dias 17 e 26 de agosto, incluindo
uma manifestação em Brasília no dia 24. Acho que essa resolução arma a ANEL
para entrar com tudo no debate mais importante da educação na atualidade,
porque se trata do principal ataque que o governo oferece à educação pública
neste momento.
Além da educação, temos visto muitas iniciativas da
ANEL relacionados ao combate à homofobia. O que o congresso preparou para dar
continuidade a essa luta?
Foi uma vitória enorme do Congresso o fato de
termos valorizado tanto os debates acerca não só da homofobia, mas também do
machismo e do racismo. Na verdade, era visível no congresso que tínhamos uma
forte presença de lutadores LGBT. E a gente sabe que isso foi reflexo de termos
encarado a luta contra a homofobia como uma das prioridades da nossa entidade
desde o ano passado. No Congresso, um dos debates mais presentes foi em relação
ao conservadorismo do governo Dilma, que acabou cedendo às pressões da bancada
dos amigos do Bolsonaro e voltando atrás na proposta de um material educativo
nas escolas a serviço de combater a opressão aos LGBT. Em uma manobra suja para
tentar salvar a cabeça de Palocci, Dilma mostrou que prefere que as crianças
aprendam hipocrisia, em vez de tolerância. O congresso decidiu que nós vamos
responder a esse fato, enchendo as escolas e universidades com um "kit
anti-homofobia da ANEL", à serviço da continuidade da luta em prol do PL
122, que criminaliza a homofobia.
E em quê o 1º Congresso da ANEL avançou do ponto de
vista da organização da entidade?
Ah, aqui é um tema que me empolga muito. O
congresso preparou a ANEL para dar um salto em sua estruturação, não tenho
dúvida nenhuma. A entidade tem agora um acúmulo sério sobre questões
fundamentais, como o trabalho de base, o funcionamento, a vida política interna
e a organização de seus fóruns. A força política do 1º Congresso da ANEL dá
base para ousar colocar nossa entidade cada vez mais a frente das lutas que
estão por vir. E a gente sabe que pra dar conta disso, temos que estar cada vez
melhor estruturados. Então acho que a Comissão Executiva Nacional vai ter que
dar muita atenção ao cumprimento de todas essas resoluções. Mas as perspectivas
são ótimas. Um exemplo disso aconteceu no próprio congresso. Depois que a
plenária final aprovou uma ousada resolução de arrecadação financeira
independente, a ANEL-BA espontaneamente procurou a CEN para já antecipar seus
pagamentos. São coisas como essa que me dão certeza de que a vitória do nosso
congresso vai significar um saldo orgânico concreto para a entidade.
Para terminar, todos sabem que o congresso da ANEL
se afirmou como alternativa ao Congresso da UNE, que vai ser agora este mês.
Que papel você acha que o 1º Congresso da ANEL cumpriu diante da proximidade de
mais um CONUNE de submissão ao governo federal?
É, as pessoas acham que nós da ANEL ficamos felizes
com essa situação da UNE, mas não é assim. Sabendo do que a UNE já fez em nosso
país, é muito triste mesmo. Vai ser o 5º Congresso da entidade coberto de
aplausos ao governo e isso já nem surpreende mais as pessoas. Então, claro que
eu fico orgulhosa da ANEL fazer um Congresso em que realmente prepare os
estudantes para a luta. E fico feliz da ANEL seguir um caminho que não ignora
as contradições e sabe não ser sectária. O congresso chamou a própria UNE pra
realizar o plebiscito dos 10% do PIB em conjunto. E se eles vierem vai ser
ótimo. Vamos ver. Mas uma coisa já está clara. A UNE vai apoiar o PNE do
governo, como sempre tem feito com suas políticas educacionais. Assim, vamos
ver que o debate nosso com a UNE não é um duelo entre aparatos, mas um debate
profundo sobre que programa os estudantes precisam. O PNE é um ataque e a UNE
vai defender. Vamos ver de novo como faz diferença em uma hora dessas ter uma
entidade dizendo "não, não temos alianças com o governo, não vamos aceitar
um ataque para o governo ficar bem; manteremos nossa independência". Acho
que estamos fortes para seguir topando esse desafio, ainda mais agora depois da
vitória do nosso 1º Congresso.
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